O governador de São Paulo está pagando um alto preço por sua equivocada opção feita em favor da política de violência (“quem não reagiu está vivo”). Claro que existe uma parcela da população que o apoia nessa aberrante escalada do extermínio sanguinário, mas se trata de um grupo minoritário. A maioria da população, incluindo os familiares dos policiais covardemente assassinados assim como dos vulneráveis marginalizados barbaramente massacrados (jovens negros, favelados, drogaditos etc.), não quer saber desse derramamento incivilizado de sangue.

A sensação de insegurança na cidade de São Paulo aumentou drasticamente e a avaliação do governo despencou rapidamente. Mas governo e reeleição dependem de apoio popular e 2014 está mais perto do que se possa imaginar.

Em setembro de 2012, 40% achavam seu governo ótimo ou bom; em outubro, o percentual caiu para 29% (Datafolha, Folha de S. Paulo de 25.11.12, p. C4). Com índice parecido, Gilberto Kassab (e Serra) deixaram de ganhar a eleição na Capital do Estado. Em setembro seu governo era ruim ou péssimo para 17%; agora chegou a 25% (Datafolha).

Alckmin perdeu 11 pontos percentuais (na sua avaliação) em um único mês e 63% dos paulistanos acham ruim ou péssima a sua atuação na área da segurança pública. É a pior avaliação de um governador de estado desde 1997. Nem mesmo Cláudio Lembo, que administrava São Paulo na época dos ataques concentrados do PCC em maio de 2006, chegou a receber tão baixa avaliação (56%, contra 63% de Alckmin, em outubro de 2012).

O círculo vicioso é o seguinte: para combater o crime organizado escalou-se a Rota, que só conhece a linguagem da violência e violência gera mais violência, que gera sangue e medo, toque de recolher e insegurança, que gera insatisfação com a polícia, que é comandada pelo governador, que cai na avaliação popular e corre o risco de não reeleição.

Vamos aos números de janeiro a outubro de 2012 na cidade de São Paulo (somente na cidade de São Paulo) e então você saberá porque a população está insatisfeita com o governador:

HOMICÍDIO DOLOSO: um a cada 8h 12m 8s;

Nº DE VÍTIMAS EM HOMICÍDIO DOLOSO: uma a cada 7h 34m 17s;

HOMICÍDIO DOLOSO POR ACIDENTE DE TRÂNSITO: um a cada 19d 5h 3m;

Nº DE VÍTIMAS EM HOMICÍDIO DOLOSO POR ACIDENTE

DE TRÂNSITO: uma a cada 16d 14h 11m;

HOMICÍDIO CULPOSO POR ACIDENTE DE TRÂNSITO: um a cada 16h 20m 36s;

HOMICÍDIO CULPOSO OUTROS: um a cada 4d 14h 53m;

TENTATIVA DE HOMICÍDIO: uma a cada  7h 1m 50s;

LESÃO CORPORAL DOLOSA: uma a cada  0h 14m 21s;

LESÃO CORPORAL CULPOSA POR ACIDENTE DE

TRÂNSITO: uma a cada  0h 23m 2s;

LESÃO CORPORAL CULPOSA OUTRAS: uma a cada  6h 53m 32s;

LATROCÍNIO: um a cada  4d 2h 26m;

Nº DE VÍTIMAS EM LATROCÍNIO: uma a cada  4d 1h 20m;

ESTUPRO: um a cada  3h 18m 34s;

TRÁFICO DE ENTORPECENTES: um a cada 1h 18m 49s;

ROUBO OUTROS: um a cada  0h 5m 29s;

ROUBO DE VEÍCULO: um a cada  0h 14m 15s;

ROUBO A BANCO: um a cada 3d 17h 23m;

ROUBO DE CARGA: um a cada  2h 21m 22s;

FURTO OUTROS: um a cada  0h 3m 12s;

FURTO DE VEÍCULO: um a cada  0h 14m 13s.

Fonte: Tabela produzida pelo Instituto Avante Brasil a partir dos dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.

Ou o governador muda a sua política de segurança ou a população muda o encarregado dessa política. Se a insegurança e o derramamento de sangue continuarem, já se pode antever cartão vermelho para o governador. O PSDB já perdeu a potente prefeitura de São Paulo. Agora acaba de colocar em risco o governo do Estado. É preciso mudar de rota. A população está farta do extermínio. 

*LFG – Jurista e professor. Fundador da Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil e coeditor do atualidadesdodireito.com.br. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001). Estou no www.professorlfg.com.br.